Meu nome é Fabien, nasci em São Paulo no Brasil e em 2023 comemoro meu 50 anos de aniversário. Moro desde 2008 ao lado da pequena casa vermelha de Pierre FATUMBI Verger no bairro de Engenho Velho de Brotas em Salvador na BAHIA.
Sou Ph.D, em Ciências Humanas – ANTROPOLOGIA stricto Sensu pela Universidade Federal de PERNAMBUCO (UFPE).
Minha experiência é excepcional porque, há cerca de vinte anos, vivo em “trânsito” entre a França e o Brasil na forma de uma “viagem iniciática”.
Aqui na Bahia conheci pessoas extraordinárias que me nutrem em todos os sentidos da palavra, tanto intelectual quanto espiritualmente. Além disso, fiquei profundamente tocado por sua generosidade de coração e espírito. Eles me ajudaram, de certa forma, a forjar as ferramentas do meu retorno que são:
- Assimilação à Cultura Afro-Brasileira por meio da religião do Candomblé na Bahia.
- Adesão aos valores sociais na obra de Pierre Verger através da fotografia.
- A Justiça social através do retrato étnico-racial da sociedade brasileira.
MEUS 10 ANOS NO ESPAÇO CULTURAL DA FUNDAÇÃO PIERRE VERGER
Credito Foto : Le multiface
I. - O olhar experiente do Fabien, itinerário de um aprendiz viajante :
Muitos anos atrás e antes que o Professor Michel Agier publicar seu livro: "Salvador de Bahia: rome noire, ville métisse", marquei previamente com ele em seu escritório no EHESS, boulevard Raspail em Paris para o encontra-lo. Pretendia obter dele informações e conselhos para preparar meu primeiro campo de pesquisa em Salvador da Bahia.
Nessa altura, era mestrando em Sociologia na Universidade de Toulouse II - Le Mirail e a minha Diretora de Pesquisa era Professora Émérita Angelina Peralva que também me orientou numa segunda fase, 10 anos depois e quase com 40 anos para ingressar um Master2 num Curso de pesquisa ESCAm (SHS) - Culturas & Sociedades - no IPEAT - Instituto Multidisciplinar de Estudos sobre as Américas em Toulouse e em cotutela com a Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Sou Ogã em um Terreiro de Candomblé. O Terreiro de Candomblé a qual pertenço, foi fotografado por Christian CRAVO no livro do Professor Michel Agier – Salvador de Bahia: rome noire, ville métisse.
Sou Presidente & fundador da Associação francesa: "HORTA FATUMBI COMUNIDADE" criada em Toulouse em 2017.
Na bibliografia do meu trabalho de Pós-Graduação, três livros do Professor Michel Agier são referenciados junto com as obras de Pierre Verger e Roger Bastide.
Meus autores contemporâneos de referência na minha área de pesquisa são Tobie Nathan e François Laplantine.
Tive a oportunidade na minha Defesa de Pós-Graduação vir em Toulouse acompanhada da Mãe CiCi de Oxalá e sua neta. Mãe CiCi é minha Yakekerê no Candomblé e é uma grande e respeitável Agbá de nossa religião. Mãe CiCi é também uma das maiores contadoras de histórias da Cultura Afro-Brasileira segundo a tradição Griô.
Também alguns anos depois, Mãe CiCi teve a oportunidade de regressar na França com a Fundação Pierre Verger onde foi convidada a ir em Lyon no "Musée des Confluences" na presença de François Laplantine.
Durante minha formação em Sociologia, dediquei-me as "Sociology" Americanas e à Escola de Chicago, exercitando as ferramentas analíticas para estudar a homogamia, os conceitos de desvios, o controle social e a mudança social.
A observação participante e o interacionismo simbólico fazem parte das minhas ferramentas metodológicas de trabalho. Fiz muitas entrevistas semi-directivas durante a minha aprendizagem sociológico, tanto para determinar conceitos relacionados com paixões partidárias e o nacionalismo no contexto da Cultura de massa, tanto numa abordagem qualitativa como quantitativa.
Em 2000, durante minha formação em Sociologia fui tutor DARD (Dispositif d'Aide à la Réussite en DEUG) na sala de informática do departamento de Sociologia para ouvir e apoiar os alunos na utilização do computador para ajudá-los na viabilidade de seus projetos de pesquisa universitária na forma de uma pesquisa estatística quantitativa usando o software SDT desenvolvido na Universidade de Toulouse II - Le Mirail.
Meu campo de atuação em Sociologia, com ênfase em Antropologia Urbana, é os processos e as rotas migratórias num contexto racial de lutas de poderes. As minhas preocupações científicas estão também relacionadas com a sociologia do género, bem como a sociologia da Saúde e Saúde mental.
Também, a Cultura Afro-Brasileira & o Candomblé da Bahia se impôs para mim como campo de pesquisa na medida em que se tornou constitutivo do meus interesses pessoais e minha religião por motivos inerentes a minha própria problemática familial e individual. Primeiro no Espaço Cultural da Fundação Pierre Verger, depois no - Ilê Axé Opô Aganju - que representa meu espaço geográfico de pertencia a minha identidade remodelada e assimilada da minha migração em retorno para meu país de nascimento.
A hermenêutica do meu trabalho é apesar de tudo e sobretudo profundamente literária. De facto, tenho uma grande admiração tanto como escritor e como figura pública por Jorge Amado.
Ogan Fabien há 50 anos em 2023
Credito Foto : Jan Kovar
II. - A forja da Annabel, a vocação de uma mulher com seu ofício :
Eu me chamo Annabel, nasci no Rio de Janeiro, tenho 42 anos e sou francesa. Eu moro perto de Marselha, na França, e sou ferrera-metalurgista. Eu gostaria criar oficinas com adolescentes para promover minha profissão e posso refazer o portão de entrada do Espaço Cultural Pierre Verger.
Tenho um percurso atípico após meu encino medio, eu ficei 1 ano nos Estados Unidos para aprender inglês em uma família Americana do New Hampshire. Entrei em um curso universitário de Sociologia em Toulouse junto com meu irmão Fabien, depois oriento-me para a Etnologia na Licenciatura. Fiz minha Licenciatura e meu Mestrado em Etnologia em Aix-en-Provence, graças a uma bolsa de estudos da categoria V enquanto eu era babá para pagar minha morradia nessa cidade.
Para meu Mestrado (que se tratava de um cooperativa agrícola e artesanal de mulheres do norte do Burkina Faso), fiz duas viagens de pesquisa na África no Burkina Faso e viajei pelo rio Níger em país DOGON.
Após meu mestrado, comecei a trabalhar em Marselha em uma associação (uma ONG que fazia campanha pelos direitos das mulheres mediterrâneas), e rapidamente vi que o atmosfera de secretariado, as relações dos colegas no âmbito do trabalho de escritório eram sujeito a fofocas que não eram compatíveis com minhas aspirações profissionais. Após 2 anos nessa associação, decidi treinar novamente.
Eu sempre fui atraído pela atmosfera da oficina, "o bricolage", o aspecto material de um trabalho manual para criar, em vez de não ser produtivo num tempo determinado e querendo criar uma atividade de muito sabedoria com custos de produções.
Treinei em dois anos em um nível abaixo do meu nível acadêmico inicial para obter um CAP (Certificado de Aprendizagem Profissional) em feragem e metalurgia em um CFA (Centro de Formação e Aprendizado), onde entrei em contato com jovens para alguns com quase mais de 10 anos a menos que mim.
Com quase 25 anos de idade, com meu diploma em mãos, fiz vários estágios com profissionais da região de Marselha e, em seguida, ingressei como funcionário na empresa PROFERRO, cujos chefes são "Compagnons du devoir" (corporação de artesã da Idade Média).
Nesta empresa, práticei o ferragem e, durante 10 anos, pratico o trabalho da forja em reuniões em toda a Europa.
Infelizmente, um acidente terrível em minha empresa (houve um incêndio em minha oficina) que forçou meu empregador a parar temporariamente a trabalhar e o obrigou a me demitir por razões financeiras. Mas foi uma oportunidade de recuperação, porque, seguindo o conselho de meu chefe e suas recomendações, decidi viajar pela Europa para aprender novas técnicas de trabalho e aumentar minha formação profissional.
Rodei pela Europa durante quase 7 anos, onde dormi durante minha viagem em pouco menos de 200 lugares diferentes:
- Trabalhei 2 anos e meio na Inglaterra e Escócia em várias oficinas.
- Trabalhei 6 meses na Irlanda.
- Então eu fui 1 ano e meio para a Alemanha, onde trabalhei no noroeste do país.
- Trabalhei no Luxemburgo numa empresa por quase 1 ano.
- Eu terminei minha volta pela Europa nas rotas de ferro na Suíça por 18 meses.
Na minha viagem, multipliquei contatos com outros profissionais em reuniões nacionais e europeias de forjamento.
Hoje, de volta à França (Alpes de Hautes-Provence), abriu meu negocio em uma antiga <Forge> de familia, no vilarejo de THOARD.
Gostaria de assumir o desafio de vincular meu estudas universitarias em Etnologia com minha profissão atual, sabendo que meu irmão há 20 anos multiplicou viagens a Salvador da Bahía até ele se estabelecer lá. Gostaria de saber mais sobre o trabalho de MARIO CRAVO JUNIOR e CARYBÉ, amigos de Pierre Verger, para renovar meu gosto pela África e minhas raízes Brasileiras. Eu gostaria de criar uma forma de residência artística temporária que também me permitisse me reconectar com meu país de nascimento e continuar afirmando que sou francesa.
Espero ter tempo para seguir as instruções de pesquisa de Dona CiCi (Mãe CiCi) para aprender sobre o artesanato e suas técnicas afro-baianas, bem como o trabalho artístico das "Ferramentas" dos Orixás.
Eu já conheço Salvador da Bahía, aonde fui em 1999, como parte de uma viagem turística com minha mãe, e continuamos nossa viagem, depois para Fortaleza e para Belém.
Saí do Brasil quando era muito jovem (1 ano de idade). Eu ainda não falava português ao contrário do meu irmão, no entanto, aprendi esse idioma na universidade e durante minhas viagens ao Brasil para conhecer meu pai.
Na minha profissão, já fiz aulas de desenho e pratico desenho industrial.
Meu enriquecimento chegaria ao poder, por sua vez, se beneficiaria da minha experiência com jovens em busca de trabalho, enquanto eu me enriquecia da cultura Afro-Brasileira em Salvador através dos diferentes Griôs da Fundação Pierre Verger : Griô em Danse, na Capoeira. Durante minha vida universitária, pratiquei teatro e até pertencia a uma tropa em Marselha.
Falo bilíngue francês e inglês. Vou ter que me familiarizar novamente com o português que não pratico há 20 anos, aprendi espanhol no ensino médio e tenho noções de alemão que aprendi no contexto do meu trabalho.
Para não perder o vínculo com meu irmão Fabien e saber que sua casa está aberta para mim em Salvador, convido vocês, Bahianos, a conhecer meu trabalho ...