1 ero ano de Sociologia -
Trabalho acerca dos princípios de controle social, homogamia e sobre o conceito de desvio
Tendo escolhido trabalhar com o tema da homossexualidade, mas conhecendo pouca coisa sobre o assunto, nosso trabalho preparatório desdobrou-se da seguinte forma: a leitura de várias obras voltadas para o tema, no intuito de nos familiarizarmos com esta noção.
Com efeito, na medida em que a homossexualidade é um fenômeno ainda dificilmente aceito na sociedade, sendo objeto de agudas críticas ou até mesmo do desprezo de alguns, ela não pode, por conseguinte ser exercida à luz do dia, aos olhos e ao conhecimento de todos. Assim sendo, constatamos a existência de “um meio” homossexual que era periférico, na justa medida do seu caráter “subterrâneo”. Poder-se-ia até mesmo empregar o termo autárquico e, portanto, sujeito a uma mitologia coletiva, veiculada por determinados estereótipos.
Ora, para dar início a um trabalho sociológico, era preciso se livrar dos respectivos estereótipos ou pré-noções (para retomarmos um tema caro a Durkheim), visto que, por definição, estes últimos estão marcados por crenças sem fundamento e, portanto, consideradas parasitas em uma conduta pretensamente científica.
Este trabalho preparatório permitiu-nos, graças à leitura de obras sociológicas capazes de oferecer-nos informações fundamentadas e mais precisas, associarmos ao nosso tema inicialmente muito genérico, a homossexualidade. Em suma, trata-se da passagem do abstrato para o concreto. Por outro lado, estas características foram desenvolvidas em nossa introdução. Assim, muito naturalmente, chegamos à seguinte problemática:
a tendência homogâmica observável nos casais heterossexuais estaria igualmente presente nos casais homossexuais no tocante ao processo de encontro amoroso?
O objetivo deste trabalho certamente não consiste em proporcionar avanços ao atual estádio dos conhecimentos sociológicos no âmbito da homossexualidade, por meio do desenvolvimento de grandiosos conceitos inovadores, dos quais seríamos os “descobridores”!
Não, o objeto deste trabalho atende a ambições bem mais modestas: a meta deste trabalho, inserido em um curso de trabalho sob orientação do ensino universitário, consiste em possibilitar a três estudantes de Sociologia “encontrarem” a Sociologia, não pelo viés teórico (desenvolvido em aulas magnas) em que o patrimônio sociológico é apresentado, mas pelo lado prático, em que o estudante é levado a fazer as suas próprias escolhas, refletindo e analisando sobre os melhores meios de coletar a informação, elaborando estratégias e se posicionando em relação aos diversos métodos sociológicos. Trata-se, em suma, de descobrir, compreender e escolher os meios de otimizar o trabalho.
No que nos diz respeito, adotamos uma postura compreensiva. Na realidade, isso não deriva de uma escolha. Ela se impôs de fato, na medida em que o nível dos nossos conhecimentos sociológicos entre a fase exploratória e a elaboração das grades de entrevistas não era suficiente a ponto de nos possibilitar adotar conscientemente outra via.
“Finalmente, deixamos o campo se expressar”. Ou seja, foi somente a partir da realização das entrevistas que diferentes pistas para estudos apresentaram-se a nós. Aqui, pistas para estudos são entendidas como pontos em comum, ideias, frases ou, por vezes, até mesmo estereótipos recorrentes nos discursos produzidos pelos nossos interlocutores durante as entrevistas. São ideias recorrentes que decidimos examinar e aprofundar, as quais foram, portanto, desenvolvidas nas fases posteriores às entrevistas.
Assim sendo, foi naturalmente que nos afastamos do estudo estrito e estreito da homogamia no casal homossexual, para derivarmos rumo a um campo de estudo que se estendeu à noção de casal homossexual em geral, ultrapassando a perspectiva restrita da homogamia. Aqui, esta última é abordada, mas não enquanto tema central.
Com efeito, o encaminhamento metodológico que seguimos não é o mais adequado para produzir um trabalho que se aproximasse exclusivamente do conceito de homogamia. A abordagem quantitativa nos aparentou ser mais adaptada para a coleta deste tipo de informação. Mesmo que a entrevista (abordagem mais qualitativa) não tenha sido, contudo, excluída, e ainda que os dados biográficos que recolhemos tenham se mostrado insuficientes. O nível de escolaridade dos pais, em particular, e todas as informações concernentes ao nível social de pertencimento dos indivíduos entrevistados ficaram faltantes. No entanto, estes últimos são referências sine qua non no estudo da homogamia.
Por fim, a escolha de integrar indivíduos solteiros ao nosso universo é igualmente atípica, caso se pretenda falar de homogamia em um casal.
Nossa confuta consistiu em escutar o depoimento de todos estes homossexuais, tentando decifrar o que eles nos diziam, entender as escolhas por eles realizadas para produzirem o seu discurso durante as entrevistas, praticando a observação enquanto confrontação com uma realidade objetiva... deixando-nos guiar pelo campo, para finalmente explicitarmos dois temas centrais: a ideia de controle social e a ideia de casal (no interior do qual está inserido, entre outras, a homogamia).
Deste modo, cabe-nos agora operar este presente reajuste, questionando de certa forma a nossa problemática inicial, para formularmos outra que se aproxime mais do caminho seguido pelo nosso trabalho. A saber, em que medida o controle social seria ele um obstáculo para formação de um casal homossexual?
Com efeito, entendemos por controle social um conjunto de regras mais ou menos coercitivas. Ora, em razão de um continuum histórico e sociológico, a homossexualidade não está inscrita enquanto valor dominante.
Nosso trabalho levou-nos às seguintes conclusões: vimos que, em primeira instância, é pela família que se opera o controle social, ao ser por ela transmitido um modelo particular de casal, além de ela determinar papéis aos quais se referem expectativas e características específicas. E, somente quando esta ordem social é construída ou desconstruída que o “coming-out” (cf. entrevista L) pode ocorrer: é a desconstrução da ordem social e a consequente aceitação de si enquanto homossexual (o processo do coming out ou “sair do armário”) que somente pode ocorrer mediante o contato com os seus semelhantes, geralmente o meio social.
Daí esta ideia de confronto com a nova realidade da autodescoberta através dos outros, da socialização homossexual, por assim dizer. Além disso, como o padrão de referência no tocante ao padrão de casal é aquele transmitido pelos pais, ele se torna, portanto, ineficaz no caso de um casal homossexual, uma vez que, por definição, a divisão de tarefas e dos papéis de cada um dos parceiros não mais ocorre com base em uma divisão de gênero. Assim, um permanente ajuste é necessário para que todos encontrem o seu próprio espaço, mas se referir ao gênero, é então preciso se basear nas competências adquiridas.
Paralelamente, outras instâncias entram em linha de conta: mencionamos os amigos ou o ambiente profissional no qual o indivíduo deverá se posicionar, levando igualmente em consideração essa noção de controle social - Preferiremos falar de olhar crítico - A escolha de expressar a sua sexualidade é, por exemplo, uma das formas de entrar em interação com o outro e, portanto, de se posicionar no tocante a este olhar crítico. O efeito desse posicionamento determina as relações amorosas em todas as suas formas.
Igualmente no encontro amoroso do casal Homo, ele próprio é desvirtuado pela falta de visibilidade na troca. Para “encontrar”, o indivíduo é obrigado a frequentar o meio organizado em forma de gueto, caso em que o encontro se vê desvirtuado, por não ser organizado em forma de identificação sociocultural, mas de acordo com o lugar de pertencimento sexuado. Daí a dificuldade de um encontro amoroso em função dos seus próprios critérios de pertencimento e de acordo com as suas próprias representações em uma sociedade baseada em critérios heterossexuais. Em nosso trabalho, nós efetivamente respondemos à análise das nossas duas variáveis sociológicas de referência: a homogamia e o desvio de conduta, validando o efeito de leis sociais, porém, através de uma análise invertida.
1ero ano do DEUG de Sociologia - Université Toulouse II Le Mirail
A homossexualidade fora & dentro do casal, 1o Ano de Sociologia, Universidade Toulouse le Mirail, 1997, 165p (com orientação de Véréna Paravel).