O Berimbau, o arco musical brasileiro

 Liquori, Annabel, Le Berimbau l´arc musical Brésilien, Licence d´Ethnologie, Fiche d'objet, Université d´Aix-Marseille, 1999, 24 p.

LE BERIMBAU - O ARCO MÚSICAL BRASILEIRA (definição da Wikipedia)

O berimbau, também chamado de gunga ou viola, é um instrumento musical brasileiro da família de cordas. É um arco musical de origem africana (instrumento tradicional dos povos Kambas) e tradicional da Bahia, cujas variedades similares também são usadas no Oceano Índico: bobre na ilha da Reunião, bom em Rodriguês, bomba nas Seychelles e nas Maurícias, jejylava em Madagáscar e Xitende em Moçambique. Ele também é conhecido entre os "angolanos" m'bolumbumba.

Esse instrumento foi trazido pelos escravos angolanos para o Brasil e também é usado para acompanhar dança, luta e esporte na forma de uma arte marcial chamada Capoeira.

Hoje é principalmente o principal instrumento de capoeira (ou moringue, primo da capoeira no Oceano Índico), mas também é usado em outras formas de música brasileira.

O músico mantém o instrumento em equilíbrio no dedo mínimo de uma mão, usando o meio e o dedo mínimo da mesma mão, cujo polegar e indicador seguram a peça. A outra mão está segurando a varinha.

O berimbau, para Capoeira, possui três sons principais:

• o som "quebrado" é o mais difícil de obter. O instrumento é pressionado contra a barriga, que fecha a cabaça; deixe a peça tocar a corda, sem pressionar. O golpe do bastão, logo acima da peça, produz um som de "chi" fortemente tímido.

• Para o som "grave", segure o berimbau descascado da barriga, para que a cabaça fique aberta. A moeda não toca a corda no momento da batida, o que é feito em um ponto a cerca de dois dedos acima da corda da cabaça.

• Para o som "agudo", ainda mantemos o berimbau destacado da barriga, mas a peça pressiona com força a corda. Nós atacamos em um ponto que encontramos cerca de dois dedos acima da peça. Este som difere em timbre e afinação do som anterior

Os músicos têm outros sons, mas esses três efeitos principais são usados ​​para definir os limites (padrões rítmicos) da capoeira.

Abrir e fechar a cabaça enquanto a corda está tocando produz um efeito "oua-aoua", ainda mais quando a cabaça está bem aberta. Nem todos os mestres aprovam esse efeito. Pressionar a peça na corda após bater produz notas vinculadas; fechar a cabaça enquanto o som ressoa a interrompe claramente. Um certo chapéu de chef pede greves na corda vazia com a cabaça fechada. Os músicos usam todos os sons que conseguem obter com o instrumento, mas costuma-se dizer de mau gosto tocar outras partes além da corda.

Obviamente, a força com que a corda é tocada é particularmente importante para o ritmo. O som da corda aberta é naturalmente mais alto (com a mesma força de batida, os outros dois soam menos), mas o músico determina quais batidas devem ser mais fortes. Além disso, o timbre do instrumento varia um pouco de acordo com a força da batida; alguns toques aproveitam esse efeito.

A música da capoeira é principalmente rítmica. A maioria dos padrões que jogamos são da mesma estrutura de oito tempos: x x. v. v. v. - cada caractere representa uma unidade de tempo: x indica o som encaracolado, v outra ocorrência, dependendo da variante, os pontos indicam que não há ocorrência neste momento; isso é apenas um diagrama; também há síncope.

Os capoeiristas produzem muitas variações desse modelo. Os mais conhecidos são a base dos toques de berimbau que têm nome.

Toques Iuna, Santa Maria, Benguela, Angolinha ...

São numerosos, às vezes mudam de nome de acordo com o mestre ou divergem de acordo com estilos (angola, regional ou contemporâneo), mas todos interagem com o jogo praticado na roda. Em Angola, eles se combinam para formar uma "bateria", cada berimbau tocando um ritmo diferente. Uma bateria de "São Bento Pequeno" não implica a mesma malícia, a mesma maneira de tocar como uma bateria de "Jogo de Dentro".

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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
I - PRESENTAÇÃO DE BERIMBAU

II - ORIGEM E FAMILIA
A.- Origem do arco musical.
B. - arcos musicaís africanos
C.- Tipos de Berimbau no Brasil
- <Berimbao> o <Berimbau de metal>
- <Berimbau de boca>
- <Berimbau de bacia>
- <Berimbau de barriga> o <Urucungo>
III - FABRICAÇÃO
A.- A madeira
B.- Preparação da madeira
C.- O ponto de união do cablo.
D. - O Cablo apretado
E. - A cuia
F. - La baguete e a moeda
G. - Cuadro de resume das étapas operatorias.
H. - Aprendendo as technicás
IV - UTILIZAÇÃO
A. - Marca social da utilisação: A assoçiação Berimbau e Capoeira
B.- Reunindo as partes
C.- Como se solidarisa o instrumento
D.- Como tocar Berimbau: técnicas corporaís e sua aprendizagem
V - DIMENÇÃO SEMIOLÓGICA
A.- O berimbau como símbolo da identidade da Capoeira.
B.- O berimbau como símbolo da identidade Cultural Bahiana e Brasileira
C.- Exploração comercial e processo patrimonial.
D.- A questão estética.

CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
ANEXOS

INTRODUÇÃO

O objeto a ser discutido neste caso é o Berimbau. É um instrumento musical que ocorre especialmente no contexto de uma arte marcial / dança:
« A Capoeira ».
No entanto, antes de prosseguir para explicar o objeto escolhido, é aconselhável fazer um desvio para definir o ambiente sem o qual  o Berimbau não existiria.
Esse desvio nos leva diretamente ao Brasil colonial e um escravagista do século XVI e, mais precisamente, ao porto de San Salvador, capital do estado da Bahia, no nordeste do país. Salvador é o ponto de chegada e trânsito de uma importação em grande quantiade de escravos das colônias portuguesas na África: Angola e Guinéa.
Segundo Tania Penido Monteiro, no « projeto da história dos bairros de Salvador », havia os grupos Gêjes, Bambarra, Tapas, Haapas, Asusas, Ashantis, Peuls e Mandingos ...
Os mais numerosos, disse ele, eram os Yorubás (também conhecidos como <Nagôs>) e os Ewes (especialmente os Fons).

Desde meados do século XVI, os navios negreiros transportavam regularmente cargas de escravos para vender aos proprietários de plantações de cana-de-açúcar. Assim, no século XVII, a riqueza do Brasil estava concentrada no nordeste do país, onde floresciam as maiores e mais produtivas plantações de cana (que constituem o <ciclo da cana> na história geoeconômica brasileira).

No início da era colonial, a plantação era um mundo fechado, onde os escravos ocupavam o fundo da escada e onde mestres brancos formavam a aristocracia. Os grandes proprietários viviam com mais frequência nas « Grandes Casas », ao lado das quais se espalhavam os campos de cana, as refinarias e as « Senzalas » (quartéis) dos escravos, « Casas grandes e Senzalas » eram o título original da obra de Gilberto Freyre traduziu assim « Mestre e escravo, a formação da sociedade brasileira ».
Neste trabalho, Gilberto Freyre aborda a gênese da sociedade brasileira, composta por uma impressionante mistura de populações. Os três pilares são portugueses, indigenas e africanos.
Em seu livro, ele também insiste na política de assimilação: "A política de assimilação ao mesmo tempo que a acomodação, seguida pelos brasileiros que possuem escravos não se limitava ao sistema de « baptizar os negros »: consistia acima de tudo em dar ao Negro a possibilidade de preservar, à sombra dos costumes europeus, ritos e doutrinas católicas, as formas e características da civilização e do misticismo africano. "Assim, eles importaram com eles muitos de seus cultos religiosos (hoje conhecido como Candomblé), suas práticas, festivais, danças e música, além de homenagens aos reis africanos (« Le maracatu », característica da tradição nórdica popular é uma sobrevivência), sem esquecer, é claro, a suculenta culinária baiana, conhecida e reconhecida em todo o Brasil .
Portanto, se os brancos exerciam controle sobre todas as facetas da vida dos escravos, estes, devido ao seu número, influenciavam profundamente a aparência da sociedade que estava sendo formada. Essas misturas tiveram o efeito de constituir a « cultura baiana ».

Portanto, é aqui, no coração das plantações, em meio às ondas dessa "cultura baiana" e do século XVII, que nasceu a Capoeira, que hoje constitui um elemento essencial da cultura nordestina e do ser de Salvador. o berço.
O surgimento dessa forma de arte decorre da proibição formal de escravos terem que lutar nas plantações. De fato, qualquer forma de luta ou combate foi punida com pesadas sanções porque sua prática era considerada perigosa demais para manter a ordem e a disciplina dentro da plantação.
 A capoeira consiste em um confronto simbólico (simbólico porque os golpes não são realmente realizados, mas simulados) entre dois indivíduos. Eles executam sequências aprendidas de « aprovação », cada uma identificável, isolável e nomeada. Os « passos » estão ligados por um passo básico (movimentado por movimento) chamado « Ginga ».
Os passes consistem em acrobacias, saltos, desvios que devem ser realizados o mais rápido possível. Juntamos o termo « arte marcial » ao da dança (nas primeiras linhas de nossa introdução), tanto pelos gestos realizados, engraçados, acrobáticos, espetaculares quanto pelo fato de serem apresentados acompanhados de música. Os dois lutadores acontecem no meio de um grande círculo, « a roda », formada pelos outros participantes e pelos músicos: portanto, a exposição é realizada em música (o lutador e o músico precisam tentar copiar seus ritmos um para o outro ) e é decorado com canções específicas desta arte que os observadores, formando a « roda », cantam ao som da música. Músicos são geralmente em número minoritário. Existem apenas três ou quatro e estão divididos em duas categorias: percussionistas (pandeiros e especialmente atabaques) e aqueles que tocam berimbau. Em geral, é ele quem decide o início e o final das sessões « roda » e Capoeira.
Por fim, esse instrumento, o Berimbau, leva sua essência e sua razão de existir na Capoeira. Hoje, cada vez mais, nunca atravesso tanto as fronteiras e seu uso é pouco mais do que neste contexto lá.
Portanto, foi necessário fazer longos desvios para apresentar a decoração e o contexto em que o berimbau nasceu, não apenas, mas em que ele intervém e evolui.
Por outro lado, veremos mais adiante que esse surgimento em um contexto de escravidão não deixa de ter impacto no desenvolvimento da disciplina, em geral. e na imagem de Berimbau em particular.

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I.-  A APRESENTAÇÃO DO BERIMBAU

 Ou berimbau é um arco musical que, como dizemos, foi utilizado pelo Brasil em associação com a capoeira.
Consiste em um poste de madeira flexível, sustentado por um arco de metal, suspenso de suas extremidades. Uma abóbora escavada para uma base não arco e serve como uma caixa de ressonância. Uma moeda (ou mesmo uma pedra chata) é pressionada contra a corda para modificar seu som, assim como outro jogador bate na corda com um pequeno graveto da Madeira.
Em relação à foto, somos como as Figuras 1 e 2, tememos uma idéia mais precisa da aparência geral do instrumento, bem como de suas dimensões..

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 As dimensões indicadas nas figuras são as do berimbau de nosso informante: Mestre Juruna. No entanto, essas (a altura em particular) podem variar de um instrumento para outro. O tamanho da abóbora também pode mudar, dependendo do som que ela deve emitir:

- Berimbau Gunga: produz os sons mais baixos,
- Berimbau Violinha: faz os sons mais altos,
- Berimbau Viola: considerado um meio.

Esses sons diferentes são obtidos variando o tamanho das abóboras, sabendo que quanto maior, menor o som (veja a Figura 3).

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II. - ORIGEM E FAMILIA

A.- Origem do arco musical.

Agora vamos esclarecer a questão da origem e história do arco musical, através do tempo e do espaço. De fato, o arco musical concorda com o "Havard Music Dictionary", um dos instrumentos musicais mais antigos. Várias formas podem ser encontradas em muitas culturas ao redor do mundo (formas que diferem um pouco do berimbau descrito acima), incluindo Novo México, Patagônia, África Central e África do Sul, além do Brasil.
As opiniões diferem em sua localização com o arco de caça, pois alguns vêem um parentesco na invenção desses dois objetos, enquanto outros vêem uma trajetória completamente independente. De qualquer forma, esta é a questão colocada no trabalho de Kay Shaffer: "O berimbau de barrira e seus toque".

B. - Arcos musicais africanos

É muito provável que o berimbau, em sua forma conhecida no Brasil, esteja em conexão direta com outros arcos musicais na África Central (região Bantu), onde muitas formas de arcos musicais podem ser encontradas lá.

As duas figuras a seguir (Figuras 4 e 5) são retiradas do trabalho de Kay Shaffer e representam alguns dos modelos de arcos musicais existentes na África (especialmente em Ouganda).


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No entanto, se eles diferem um pouco do berimbau descrito acima, o livro de Kay Shaffer também faz alusão ao ancestral africano de nosso objeto que originalmente se origina de Angola.
O autor é baseado no livro: "Etnografia e história tradicional dois pólos da Lunda", de Henrique Augusto Dias de Carvalho (Lisboa, 1890), onde este escreve: "O Rucumbo, constituído por uma corda esticada sobre um arco de madeira flexível, tem, em uma extremidade, uma pequena abóbora que serve como caixa de ressonância, o arco permanece apoiado entre o corpo e o braço esquerdo, a mão correspondente mantém-na em altura e os sons são obtidos com a mão direita por meio de uma pequena barra batendo na corda em diferentes alturas "(texto original, ver anexo 1, aqui traduzido por mim).
Então nós podemos ver. Aqui, os relatos de viajantes atestam a presença de instrumentos musicais semelhantes em solo africano. Portanto, podemos observar que o berimbau não nasceu no Brasil da capoeira, mas é nativo da África e foi importado por escravos no Brasil (muitos dos quais eram de origem bantu como nós especificamos na introdução).

C.- Tipos de berimbau no Brasil

O livro de Kay Shaffer (que também nos forneceu uma base histórica muito lucrativa) estipula que não há indicação da existência de arcos musicais entre as populações indígenas do Brasil. Portanto, na medida em que, por um lado, o comércio de escravos começou no Brasil por volta de 1548 e, por outro lado, o uso do berimbau foi, desde o início, usado exclusivamente por escravos negros e seus descendentes, parece Obviamente, nosso objeto é um instrumento de origem africana introduzido no Brasil por escravos.

No entanto, existem quatro tipos muito diferentes de berimbau no Brasil. Os três primeiros que vamos evocar quase não existem hoje. Eles caíram em desuso, ou até desapareceram completamente. A descrição do nosso objeto refere-se ao quarto tipo: "berimbau de barriga", que, enquanto isso, ainda é muito comum até hoje.

"Birimbao" ou "metal Berimbau »

É lá, nada mais e nada menos, que conhecemos na França sob o nome de harpa e que foi introduzido no Brasil pelos portugueses (veja a figura 6). A tradução para o português de « Birimbao » guimbarde deu seu nome, após transformação, ao nosso berimbau. « De barriga » significa literalmente « barriga ».


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          « Berimbau de boca »

    É um instrumento que tem sido usado no Brasil até recentemente, mas desapareceu durante este século (nosso informante Juruna, no entanto, nos disse que ele só testemunhou a prática deste instrumento uma vez)
Consiste em um arco de madeira flexível, em cujas extremidades uma liana é esticada (cipo-de-iambe é o nome dessa variedade). Por um lado, o jogador segura um taco para acertar a corda e, por outro lado, uma faca usada para modificar o som. A especificidade é que, nesse caso, é a boca que serve como caixa de ressonância; o termo « boca » significa « boca » em português (veja a Figura 7). Kay Shaffer especifica no trabalho a partir do qual a representação é tirada que este modelo da boca do berimbau também é observável na África.

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"Berimbau-de-bacia"

    Consiste em um arco no qual está pendurada uma corda, cujas duas extremidades são fixadas em duas caixas grandes. Por um lado, uma pessoa segura o arco e, na frente dele, outro sentado no chão, atua no barbante. Com a mão direita, segure um cilindro de metal na corda para definir o tom da nota e, com a mão esquerda, bata no fio com uma vara (veja a Figura 8).

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 « Berimbau de barriga » ou « Urucungo ».

Literalmente significa "barriga de berimbau", isso implica, como vimos, uma abóbora colocada na extremidade inferior e que, como uma mesa de som, é colocada contra a barriga (daí o sobrenome).
Note, no entanto, que também é chamado Urucongo, um nome que não está tão longe do "Rucumbo" que Henrique Augusto Dias de Carvalho mencionou anteriormente em sua descrição de um instrumento observado em Angola.

Pareceu-nos importante substituir o berimbau na série de objetos dos quais faz parte, em uma família. Depois de mencionar a coleção de objetos semelhantes com os quais está relacionada, tanto na África quanto no Brasil, podemos agora apreciar seu "estado de Métis", como a sociedade brasileira em que evolui. , pois se sua origem é totalmente africana, seu nome é português. No entanto, e elaboraremos mais adiante essa idéia, sua origem africana é hoje muito e verdadeiramente esquecida, pois é considerada um produto brasileiro puro, um forte marcador de identidade.

III - FABRICAÇÃO

Agora é apropriado abordar a questão da fábrica de berimbau e especificar aqui que esta parte foi escrita graças à participação gentil do Mestre Juruna, que ensina Capoeira em Aix-en-Provence e Marselha.
Foi ele quem nos forneceu todos os itens tratados consecutivamente e pacientemente respondeu às nossas perguntas. De fato, é preciso especificar que foram os próprios capoeiristas que atingiram um certo nível, na prática da disciplina, construíram seu próprio Berimbau.
A fabricação básica de berimbau é a mesma há mais de um século. No entanto, cada grande mestre de Capoeira apresentou seus próprios detalhes, melhorias e inovações. Por outro lado, a produção em massa, atualmente objeto deste instrumento, também contribuiu para "desarticular" a fabricação em relação a essa categoria, pelo menos. Os verdadeiros capoeiristas, enquanto isso, fabricam seu próprio instrumento, mantendo assim um modo de fabricação mais tradicional.

A.- A madeira

A madeira utilizada hoje é a "Biriba", uma espécie tropical cujos pontos fortes e flexíveis são reconhecidos pelos usuários.
Juruna até nos falou sobre os programas de proteção e reflorestamento de biribas no Estado da Bahia para enfrentar um aumento no consumo dessa essência. No entanto, no século passado, o "Pau-Pombo" foi usado. De fato, a corda esticada é hoje mais resistente e maior tensão, os usuários foram forçados a mudar e obter uma madeira mais resistente.

B.- Preparação da madeira

O "Biriba" foi antes, diretamente, cortado na floresta. Hoje, geralmente é comprado em serrarias, já cortadas em seções, o mais reto possível, o que é essencial na fabricação. De fato, um ramo distorcido não pode ser utilizado.
O tamanho do "tatear" varia de professor para outro. Juruna, enquanto isso, nos contou cerca de 1m 60 em média. No entanto, deve-se notar que a duração influencia a qualidade do som.
Depois de coletada e cortada, a madeira deve secar para evitar apodrecimento ou emaranhamento de insetos. Por outro lado, esse estágio tem uma reputação de tornar a madeira mais forte. A secagem é realizada expondo a madeira ao sol por dez a quinze dias ou passando-a ao calor do fogo, que tem o efeito de acelerar o processo de secagem.
Uma vez concluída esta etapa, a casca permanece, para ser removida com uma faca, algo que na madeira Briba é relativamente fácil de fazer.
O último passo na preparação da madeira é lixar. Se hoje a lixa é considerada a mais eficaz, anteriormente um fragmento de uma garrafa era usado e passado sobre a madeira para lixá-la. Juruna nos diz que esta é uma solução que ainda é praticada.

C.- Os pontos de fixação do cabo.

Anteriormente, as extremidades do berimbau eram planas na parte superior e apontadas para a parte inferior. Agora, neste ponto, houve uma evolução ao longo dos séculos. De fato, em "tempos difíceis" de problemas e instabilidade política, o berimbau que era feito de forma aguda podia ser rapidamente relaxado e usado como arma.
Portanto, para tornar a prática "mais respeitável" em um momento em que a Capoeira ainda era considerada uma atividade de "bad boy", alguns começaram a trabalhar na parte inferior, como mostra a Figura 9.
A extremidade superior é plana como dissemos e é coroada por um círculo de couro para impedir que o fio corte nos cantos da madeira sob a força da torção (veja a Figura 10). A peça de couro é colada ou mantida no lugar com pregos. Com a faca, corte os pedaços salientes da madeira (Figura 11), pois o pedaço de couro nem sempre mede exatamente as dimensões exatas da extremidade superior.


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D. - O cabo tensionado

Até 1920-1930, a corda usada era de origem vegetal. Era uma liana, forte o suficiente para não cortar ("cipo-de-imbé"). No entanto, a partir da banalização dos carros, é o cabo que está dentro dos pneus que começou a ser usado. Portanto, recuperamos os pneus velhos e cortamos a borracha até encontrarmos o início do cabo, com vários metros de comprimento (é óbvio que hoje usamos bobinas de arame comerciais para essa produção, pelo menos em larga escala)
Depois, teve que ser lixado para remover qualquer pedaço de borracha que pudesse ter grudado nele.
Feito isso, trata-se de fazer um pequeno loop com o cabo em cada uma das extremidades. Um ficará preso, como mostra a Figura 12.


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Um cadarço é pendurado no laço da extremidade superior, como mostrado esquematicamente na Figura 13.
Em seguida, o arco é enfaixado, o cabo é esticado ao máximo, passa por cima do pedaço de couro e é enrolado no bastão e amarrado com um nó, no nível do cordão (veja a figura 14).

E. - A Cabassa.

O primeiro passo é mergulhar a abóbora na água para amolecê-la um pouco. É quando podemos fazer dois pequenos orifícios em sua casca, como mostra a Figura 15, através dos quais uma corda destinada a pendurar a abóbora no arco passará (Figura 16).
Então é importante deixar secar bem. Seque, você pode cortar, esvaziar sua polpa e sementes e limpá-la (ou até lixar). É escavada com uma faca ou colher, um pedaço de vidro e, às vezes, até com uma tampa de garrafa. O tamanho da abertura é muito importante porque, como uma caixa de som, se for muito grande, ele não funciona mais e, por outro lado, se for muito pequena, o som não terá ressonância suficiente.


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F. - A baguete e a moeda

    Não é outro senão um pedaço de madeira de biriba lixada, quarenta centímetros de comprimento, com um diâmetro muito fino (o de uma caneta esferográfica).

    A moeda, por outro lado, é usada para modular o som enquanto você toca. Deve ser espessa o suficiente para causar impacto na corda. Você também pode usar uma pedra plana, como Juruna.

G. - Tabela de resumo da cadeia operacional.

Veja a tabela de resumo da cadeia operacional.
    Poderíamos adicionar a esta tabela, como uma sequência final, o envernizamento (do palito e da abóbora) que não incluímos no processo de fabricação, na medida em que seja opcional.
    Toda a cadeia operacional é orientada e deve ser pensada, de acordo com sua eficácia em relação à sua finalidade. O objetivo final é: bom som, que depende do design e da qualidade das diferentes peças (a retidão do stick e o tamanho da caixa de som). Isso por si só constitui "o critério do bem". Juruna nos diz que o último passo é casar « a abóbora certa com o palito certo ». É o ouvido experiente do jogador experiente que julgará a qualidade dos sons produzidos, « o critério do bem será atingido » (alcançar o som perfeito).

H. - Aprendendo esta técnica

    Segundo Juruna, a técnica de aprendizado para fazer berimbau é bastante informal.
Ele é o professor do grupo que não apenas cria seu próprio instrumento, mas também ensina seus « segredos de fabricação » a seus alunos. De fato, se a técnica não é um segredo em si mesma, é, no entanto, uma prerrogativa dos iniciados. Juruna nos explicou que, naquela época, foi seu professor que reuniu vários de seus alunos, incluindo ele, e quem lhes ensinou todas as etapas de fabricação que acabamos de descrever.
« Alguns de seus alunos », dissemos anteriormente, desde o início, é necessário testemunhar, é claro, um certo nível técnico no exercício da disciplina, mas acima de tudo em um « grau significativo » de comprometimento, tanto físico quanto espiritual. , na prática prática.
Portanto, estamos lidando com um aprendizado completamente informal e um modo empírico de transmissão.

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IV - UTILISAÇÃO


A. - Estrutura social de uso: a associação de berimbau e Caopeira

O livro "Capoeira Angola", do grande professor Vincent Fereira Pastinha, é de grande interesse na história da capoeira.
Aprendemos, em particular, que a associação desses dois elementos do folclore brasileiro não é evidente, pelo menos originalmente, e contrária ao que sugerimos até agora.
De fato, originalmente, nos tempos coloniais, o Berimbau era usado de forma independente, como um hobby simples, um meio usado pelos vendedores ambulantes para atrair atenção ou simplesmente pesquisar. As gravuras, no apêndice 2, mostram, por um lado, que a capoeira era praticada apenas com o som de atabaques (percussões) e, por outro lado, testemunham o uso autônomo do berimbau. Portanto, a associação do jogo e do instrumento é realmente feita muito tarde, em meados do século XIX, especifica Pastinha Master. Dito isto, o fato é que hoje esses dois elementos são completamente inseparáveis.
Por fim, deve-se notar que, fora do estado da Bahia, o uso do berimbau parece ter desaparecido, até que foi reintroduzido no século XX exclusivamente pelas escolas de Capoeira.
Portanto, estamos lidando aqui com um instrumento, cuja utilização passou por várias alterações ao longo do tempo. Utilizado de forma independente, o berimbau desapareceu, exceto na Bahia, onde, lembre-se, a proporção de descendentes de escravos se limita a 70% e foi encontrada "pela força das coisas" associada à prática de uma disciplina artística. O que, por si só, garantiu sua sobrevivência e, por outro lado, o acusou de um certo número de representações de identidade que não pararam de amplificar durante este século (é o ponto que desenvolveremos no próximo capítulo).

B.- Reunindo as partes

    O Berimbau é geralmente transportado « em peças de reposição » (ou seja, em qualquer caso, bem como no da viagem a Juruna). Portanto, o primeiro passo a tomar antes de se inscrever no seu consultório é configurá-lo.
Primeiro, trata-se de prender o cabo na parte inferior do objeto (como vimos na parte « fabricação ») e enrolar a outra extremidade do cabo em torno da parte superior do objeto. bastão. Você precisa puxar o mais forte possível o cabo (que é mantido pelo cabo) enquanto pressiona o joelho ou o quadril no centro do clube, para ajudá-lo a torcer. O fio, esticado ao máximo, dá sua forma ao objeto. Resta então enfiar a abóbora na parte inferior do arco, como vimos na figura 16, levantando-a até o diâmetro do fio não permitir que ela suba mais. Por favor, note que quanto menor, menor o som.

C.- Como segurar o instrumento

    Como mostram as duas fotos a seguir, a pequena pedra chata (ou moeda) é mantida entre o polegar e o indicador da mão esquerda que carrega o instrumento, enquanto os dedos médio e anelar seguram a madeira. O dedo mindinho passa por baixo da corda que atravessa a abóbora. A outra mão segura a varinha.

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D.- Como jogar Berimbau: técnicas corporais e seu aprendizado.

    A primeira coisa que o aluno estuda é como segurar o instrumento (o que acabamos de ver) e como equilibrá-lo. A altura e o peso tornam mais difícil do que parece. Alguns exercícios são adquiridos durante o aprendizado :  mover o instrumento para cima e para baixo enquanto o mantém na vertical é um exemplo. De fato, leva um tempo para os músculos da mão esquerda « se acumularem ». Além disso, todo o peso do instrumento cai diretamente no dedo mindinho, o que é doloroso a princípio. Por outro lado, a posição da mão esquerda é particularmente difícil de sustentar, devido à « dissociação da função dos dedos » pode-se dizer. É necessário segurar simultaneamente o manípulo com o indicador e o dedo médio e, ao mesmo tempo, mover o polegar e o indicador que seguram a peça. Ele faz um movimento de vaivém, às vezes para ficar contra o fio de metal ou para se remover do contato.

Portanto, essa dificuldade em manusear o instrumento quando você começa a aprender significa que a maioria dos estudantes capoeiristas nunca consegue tocá-lo.
Quando o aluno consegue segurar o graveto, o arco e produzir um som de certa qualidade, ele aprende as fases musicais que repetirá até conhecê-las perfeitamente. Pouco a pouco, essas fases se multiplicam e se tornam mais complicadas. Durante esse período, o aluno aprenderá a manusear a peça de maneira correta e fácil, o que, como dissemos, não é fácil. O ouvido treinará para conhecer os diferentes sons que o instrumento.
A posição da caixa de som pode gerar outras nuances de som. Note-se, no entanto, que a mão esquerda não é estática. Isso se move da frente para trás, para grudar e desconectar da barriga, causando variações no som. O instrumento é capaz de produzir duas notas, uma das quais é mais alta que a outra. Além dessas duas notas, o instrumento pode produzir uma grande variedade de sons devido às modulações que ocorrem sob o efeito do toque da peça e a distância entre a abóbora e a barriga. Geralmente, quando você toca uma nota baixa, a abóbora fica mais próxima da barriga e, pelo contrário, quando é alta, a abóbora se afasta. Da mesma forma, quando uma nota baixa é tocada, a corda deve ser atingida pelo palito, abaixo do nível da peça e acima, se for um agudo. Então você tem que praticar, diariamente e por muitos anos, para jogar corretamente. Obviamente, existe uma grande diferença entre tocar e apenas tocar a corda. Você precisa tocar até que a dissociação das diferentes articulações e o som produzido por cada uma das diferentes combinações sejam registrados na memória motora do corpo como um reflexo quase automático.
A pontuação no anexo 3 mostra claramente o sistema que foi desenvolvido para produzir, por escrito, todas as nuances e os vários efeitos produzidos pelo instrumento.
Como podemos ver, finalmente, a mesma melodia pode ser tocada de maneira diferente, dependendo do professor que a toca.

A técnica corporal usada no exercício berimbau é, como sugerimos até agora, relativamente complexa. É verdade que apenas os braços entram em ação, o resto do corpo é estático, mas dos ombros às articulações (com o exercício da peça), tudo funciona simultaneamente e de forma diferente. É essa « diferença de simultaneidade » que é difícil de dominar.
Primeiro, os braços esquerdo e direito agem independentemente. No braço direito, apenas o punho funciona, exercendo uma ação para trás para bater o fio. O braço esquerdo, enquanto isso, segura o arco como já dissemos. O ombro e o cotovelo trabalham simultaneamente para regular a distância entre a abóbora e o estômago. Enquanto isso, o pulso permanece fixo, uma vez que é o equilíbrio do instrumento que pesa sobre ele e sobre três dedos. Os dois dedos restantes, polegar e indicador, trabalham com a parte sincronizada com outros movimentos.

V. - DIMENSÃO SEMIOLÓGICA

A. - O Berimbau como um símbolo de identidade da capoeira

    Como dissemos, se o berimbau e a Capoeira nem sempre foram relacionados, o fato é que agora eles estão intimamente associados.
    Antes de tudo, são os professores que não apenas tocam o instrumento na « Roda » (círculo formado por praticantes durante o jogo), mas também o fazem e ensinam (tanto em termos de fabricação quanto de uso). Nessa medida, fica claro que, no inconsciente coletivo brasileiro, o berimbau é um símbolo de identidade, fortemente associado aos capoeiristas. Sabemos que, quando está presente, o jogo da capoeira não está longe.
    Essa « associação de idéias » é ainda mais forte para as pessoas no sul, oeste e centro do Brasil, uma vez que a Capoeira, um elemento do folclore especificamente baiano, é uma prática para essas pessoas. não muito "exótico", mesmo que, ao longo do século, a prática tenha sido institucionalizada e espalhada por todo o país.

Aqui vemos como um instrumento musical poderia ter sido associado a um esporte, no inconsciente coletivo de um país inteiro. Como exemplo, devemos salientar que as percussões (atabaque e pandeiro) que também entram no acompanhamento musical da Capoeira durante a roda não se limitaram, por sua vez, à prática circunscrita desse esporte. De fato, são praticadas em outras lugares, em um universo musical rico e variado, e não são automaticamente associados à capoeira no inconsciente coletivo popular, como nosso objeto.

B.- O ​​berimbau como símbolo da Bahia e da identidade cultural baiana.

A cidade de Salvador da Bahia é um centro turístico do Brasil e a cidade mais visitada do país. Sua rica história e patrimônio é uma explicação (é a cidade de 365 igrejas). Esse passado muito antigo e muito denso é a origem do que chamamos em nossa introdução « cultura baiana », de acordo com a expressão dedicada ao Brasil. Portanto, dentro dessa « cultura baiana », ele justapõe e sobrepõe um conjunto de práticas, desde o mundo do candomblé (religião africana), até a tradição culinária incorporada pelas senhoras baianas em branco « Saía » que, no esquina das ruas, oferecem os famosos « acarajés, carrurus, cocadas » e outras iguarias ... e sem esquecer as inúmeras práticas populares, com forte caráter africano. No meio dessa imagem pitoresca, a capoeira (e, por extensão, o berimbau) ocupa um lugar de destaque.
Nosso objetivo aqui é mostrar que esse processo de « destacar » a capoeira e o berimbau é o resultado de um processo reflexivo das autoridades locais para fortalecer a imagem da cidade e do próprio turismo.
O centro histórico, o distrito "Pelorinho" (que significa "a Picota": estava localizado na praça central deste distrito, e é lá onde os escravos eram punidos em público), também muito pitoresco. e colorido, sob as diretrizes de CH Magalhães (governador do estado e prefeito da cidade) sofreu muitas modificações durante os anos 90. Ao longo dos anos, esse distrito muito popular foi alvo de um grande projeto de reabilitação e reabilitação urbana. Como Tania Penido Monteiro explicou em sua tese intitulada "Projeto da história dos bairros de Salvador" e confirmada pelo guia Routar (ver Anexo 4), Pelourinho era nos anos 80 um bairro marginalizado por ser "muito famoso" e perigoso. . É claro que esse estado de coisas influenciou o estado do turismo que diminuiu devido à insegurança das ruas. Este projeto de reabilitação urbana teve o efeito de levar os mais pobres aos "subúrbios" (subúrbios) e redesenhar a vida "turístico-comercial". El Pelorinho é hoje uma "terra da Disney" da história colonial brasileira, onde os turistas podem querer visitar a cidade sem realmente cruzar os limites espaciais do distrito (ver Anexo 5).
Isso, além da « política urbana », permite retornar ao berimbau, mostrando como, paralelamente a esse processo de reabilitação de um distrito e cidade, as autoridades o colocaram em uma situação de identidade e símbolo cultural. .
    De fato, o berimbau está presente em todo o Pelourinho: nas ruas, quando os jovens exibem capoeira, nas lojas (especialmente), em volta do pescoço, nas camisetas. Para ilustrar essa idéia, podemos até citar o exemplo de cabines telefônicas em forma de berimbau. Esse exemplo em si mesmo testemunha essa vontade que parte, é claro, de uma realidade concreta e real, mas que as autoridades e os comerciantes julgaram e ampliaram criteriosamente para impor o berimbau como imagem de uma cidade e sua cultura.

É nesse sentido que usamos o termo símbolo de identidade cultural. Tendo se estabelecido como emblema de uma prática esportiva, foi deliberadamente usado para simbolizar a Capoeira e, por extensão, a especificidade cultural e popular de uma cidade inteira (ou mesmo de todo um estado, o estado da Bahia).

    Finalmente, vemos várias coisas aqui. Em primeiro lugar, como um objeto simples, com a ajuda de certas instituições, poderia se afirmar como um símbolo cultural e de identidade da cultura baiana, no inconsciente coletivo de um país inteiro. Depois, vemos como a imagem dele, agora institucionalizada, automaticamente mergulha os brasileiros em seu passado escravo e colonial.
    De fato, trata-se de um símbolo que se refere, ao longo de sua história, a uma relação ligada à escravidão, à negligência, uma região marcada por suas divisões sociais e, ao mesmo tempo, uma certa vingança dos negros cuja A cultura, desprezada e subvalorizada, hoje se destaca como um « ícone cultural » e uma máquina caça-níqueis « comercial e turística ». Finalmente, há um ponto fundamental a ser lembrado, uma vez que o objeto foi estabelecido no Brasil. De alguma forma, perdeu sua « origem africana ». Com isso, queremos dizer que no Brasil há um desconhecimento do público em geral sobre a origem desse objeto que não só possui equivalentes na África, mas também nasceu lá. Paralelamente a esse processo de identificação coletiva e cultural do berimbau, foi desenvolvida a idéia de que é brasileiro (e não mais africano) e que é « uma cois nossa » (algo que nos pertence).

C.- Exploração comercial e processo de propriedade.

Como dissemos, o berimbau está em todo lugar no Pelourinho. O anexo fotográfico 6 foi colocado aqui para destacar o número de objetos derivados do instrumento e, portanto, o escopo da exploração comercial da qual sua imagem é o objeto.

De fato, estamos lidando aqui com uma « nova geração » de berimbau, diferente daqueles cuja fabricação e uso descrevemos nas páginas anteriores. Aqui podemos dividir esses objetos derivados em duas categorias:
 
         - Alguns são simples modelos reduzidos: pulseiras, colares, figuras e até ímãs de geladeira (ou modelos ampliados para cabines telefônicas) ou que consistem em uma representação gráfica do objeto: camisetas e calças para a prática da capoeira. Portanto, eles têm um uso completamente diferente do uso original.

        - A outra categoria consiste em berimbau real, tamanho real (ou aproximadamente o mesmo tamanho) produzido a partir da cadeia operacional descrita acima (mesmo que tenha sido ligeiramente modificada para necessidades de produção em série em larga escala).
        No entanto, elas são decoradas (desenvolveremos o aspecto estético no próximo capítulo) e realmente não têm a função de "ser praticado" (ou seja, tocar música). De fato, a grande maioria dos compradores são turistas, é claro que eles não têm oportunidades nem conhecimento técnico para jogar. Portanto, essa grande quantidade de berimbau pretende ser simples objetos decorativos pendurados na parede (por esse motivo, além disso, a forma e os acabamentos são de qualidade inferior).

D.- A questão estética.

    O berimbau como um objeto criado pelo futuro usuário (pelo menos para o que é verdade) deixa muito espaço para gostos e preferências individuais. No entanto, não se pode dizer que haja uma investigação estética aqui. No entanto, há um esforço para personalizar o item para aqueles que o usarão mais tarde. O fabricante do usuário simplesmente colocará « um pouco disso » no objeto.
    Desde a escravidão até hoje, os berimbau não estavam acostumados a serem decorados. A pintura de Berimbau é uma iniciativa recente e refere-se principalmente àqueles que não são para uso « profissional ». Os instrumentos são geralmente de cor natural e até o século passado a casca nem sequer foi removida. Mestre Bimba (nascido em 1900), o maior professor e iniciador do processo de institucionalização da disciplina, sempre removeu a casca do berimbau que ele criou, explicou Juruna. Podemos deduzir disso que a predominância desse professor (que é para a Capoeira o que Durkheim é para a sociologia francesa) serviu de exemplo, de modo que esse hábito de remover a crosta foi generalizado.
Por outro lado, também é comum envernizar o berimbau sem que essa prática seja sistemática. Jurena nos explicou que o livre arbítrio e o gosto pessoal prevalecem nessa área. No entanto, o verniz é um hábito que remonta ao tempo da escravidão. Diferentemente desses, os instrumentos vendidos aos « leigos » nas lojas e mercados da Bahia são pintados. A tinta é diferente a cada vez e depende do fabricante. Dito isto, a maioria do que observamos tem fundo branco e linhas de cores vivas que, segundo Juruna, são representativas da escola de Capoeira à qual o fabricante pertence (que é sempre um capoeirista).
Por outro lado, Juruna nos disse que, dada a crescente concorrência, cada fabricante deve mostrar cada vez mais criatividade e originalidade para se destacar de seus vizinhos.
Esta investigação estética não é realmente adotada para o verdadeiro "Berimbau de Roda". De fato, fabricantes-usuários conscientes da herança do berimbau, a herança de seus ancestrais escravos, parecem ter vontade de permanecer fiéis a eles, mantendo esse aspecto "rudimentar" do objeto.

  CONCLUSÃO

Nas páginas que acabamos de navegar, vimos como nosso objeto tem uma jornada « incrível », tanto do ponto de vista da dimensão e identidade semiológica que ele transmite quanto do campo de sua fabricação e uso. .
Transposto de um continente para outro pelo jogo da difusão cultural e pelas limitações da escravidão, este, depois de contratar o « casamento com a Capoeira », se vingou passando de uma imagem. do bad boy ao símbolo da identidade regional ou até nacional (já que a capoeira é a parte do Brasil que melhor se exporta para o exterior depois do samba e do futebol). Esses desenvolvimentos não tiveram impacto em sua fabricação, que, se modernizada (somente em determinadas circunstâncias), busca o mesmo para preservar seu espírito: artesanal, tradicional e herdado da escravidão. Sobre esse assunto, notamos o gênio criativo e « engenhoso » dos brasileiros, que com poucos meios e muita imaginação e recuperação, podem dar origem a jóias reais. Foi até seu uso que, durante este século, foi virado de cabeça para baixo. Se, por um lado, esse uso foi mantido e perpetuado de maneira estável, graças a um processo de aprendizado remanescente de « um ritual de iniciação no mundo dos iniciados », por outro lado, ele foi encaminhado de uma forma que variava entre uso funcional e uso decorativo. Esse fenômeno da patrimonialização é em si mesmo representativo de todo o progresso que esse simples instrumento musical conseguiu acompanhar no tempo e no espaço.

Agora é necessário terminar esta conclusão, mas não sem insistir no fato de que o berimbau parece ter um futuro brilhante se acreditarmos no fenômeno da « globalização » que a Capoeira está experimentando e que ainda está na infância. hoje, a Capoeira ultrapassa as fronteiras do Brasil, é organizada em uma federação, mais e mais clubes estão ultrapassando as fronteiras do Brasil, é organizada em uma federação, mais e mais clubes estão abrindo na França e competições são organizadas. É verdade que a história das evoluções do berimbau ainda não está fechada e que os caminhos a seguir ainda não foram escritos.

BIBLIOGRAFIA

Gostaríamos de agradecer aqui
Mestre JURUNA
que ensina capoeira no Dojo Mirabeau em
Aix-en-Provence e que nos forneceu uma base empírica
muito apreciável por tudo relacionado a
Produção de Berimbau.
Agradecemos novamente por sua ajuda, paciência e bondade.

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- CASCUDO, Luis da Camara., Dicionário do Folclore Brasileiro, Edicoes Melhoramentos, São Paulo, 1980

- FREYRE, Rodrigo, "Mestre e escravo, a formação da sociedade brasileira", Ed. Gallimard, Coll tel, Paris, 1952

- Guide du Routard - Brazil - Ed 1999-2000-01-20

- PASTINHA, Vincente Fereira., Capoeira Angola, Ed. Escola Graf. N. S. Lorêto, Salvador, 1964

- MONTEIRO, Tania Penido, “Projeto sobre a história dos bairros de Salvador (Bahia-Brasil): uma experiência de pesquisa e ação.
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- SHAFFER, Kay, O Berimbau-de-barriga e seus toque, Instituto Nacional de Folclore, Rio de Janeiro, 1977

- CARVALHO, Henrique Augusto Dias de, Etnografia e história tradicional dos povos de lunda, Lisboa 1890


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