O caminho da superação...

 

 
© Projeto Olùbátá Ritmos Africanos produções - Ilê Axé Opô Aganju - Lauro de Freitas - BA -  com Pai Balbino Daniel de Paula, OBARAYÍ
 
 
Em 2002, quando eu apresentei minha - Maîtrise - (que dentro do processo de revalidação de diploma é já considerado uma pós-graduação mas já com um programa de estudo mais leve porque ele é apresentado no ultimo ano da graduação), me foi proposto para meu júri da minha banca felicitações e a menção <Très Bien>, a possibilidade de ingressar a verdadeira Pós-graduação que se chamava na época na França -DEA-, a minha posição foi imediatamente pensada e irredutível de não aceitar a proposta.
E até hoje, eu estou com certeza que foi a resposta certa de alguém que foi capaz de medir suas possibilidades.
Eu não aceitei porque achei que não queria assumir uma derrota.
 
Se eu tivesse aceitado a proposta na época, teria que ter dado minha demissão do meu trabalho nos fim de semana como operário na Motorola. Não queria dar minha demissão num trabalho numa multinacional porque eu teria nestas condições perdido todo tipo de direito salarial e beneficio a meu posto de trabalho e meu tempo de serviço na empresa, e mesmo se o Dossiê universitário me dava direito até um posto de ATER, (porque minha escolaridade universitária foi feita com uma bolsa sobre critérios sociais).
Também a este nível do campeonato não era mais possível de assumir um trabalho estudando. Tinha que se dedicar ao estudos ou deixar de estudar.
Eu não iria conseguir assumir este papel e depois de 2 anos eu ia perder todo o beneficio da minha posição de <major de promoção>.
Era uma situação com todo o conteúdo do que foi colocado em ação para chegar até ai que não valia a pena de se arriscar a este momento da minha vida.
A minha - Maîtise - se posso fazer uma autoavaliação era um bom trabalho que colocava em primeiro plano a problemática negra baiana e que para alguém que chegou numa cidade que acabava de conhecer era em si a prova de uma alta capacidade de adaptação que passa o fato que eu vinha de fora mesmo com um veículo já muito grande com a nacionalidade brasileira.
 
E isso não são critério relevante para os professores poder avaliar um trabalho apesar que no meu caso quem podia avaliar este critério era unicamente minha Diretora de pesquisa que já conhecia as realidades do campo brasileiro.
Durante este viagem eu tive uma crise bipolar que me levou em 4 capitais - Salvador - Rio de Janeiro - Paris - Toulouse em mais de 16 dias, ninguém entendia o que estava se passando na minha cabeça e tudo mundo pensava que eu tinha tomado uma droga porque quando uma pessoa acorda num carro da policia porque foi encontrado completamente <nu> no transito da avenida Rio Branco no centro do Rio de Janeiro pode se questionar que tipo de transtorno ele pode ter?
O meu maior perigo foi nos primeiros momentos da minha crise, me sentiu naquela fase sem retorno e que na época meu único molde de salvação era ainda o internamento psiquiátrico.
Mas a minha grande dificuldade era que eu conhecia ninguém nessa cidade, fazia apenas 2 meses que eu tinha chegado no Brasil passando pela minha família biológica brasileira no Rio, e tinha começado a colocar já alguns passo na minha pesquisa, já com as dicas de Gisèle Cossard (Mãe Omindarewá) que me tinha feita a proposta de conhecer Mãe CiCi na Fundação Pierre Verger quando chegasse a Bahia.
E na realidade eu cheguei na frente dessa francesa do Brasil e da África sem real noções bibliográficas sobre o Candomblé porque mesmo se eu era fascinado pela negritude de maneira pessoal com uma certa vivência do Brasil, me faltava ainda muito leituras sociológicas sobre a história do Brasil e sem referencia antropológica sobre o Candomblé.
 
É assim que eu comecei a trabalhar, todos os dias de semanas eu chegava as 8h30 numa Fundação onde eu aprendi neste local o trabalho de seu fundador beneficiando de leituras na biblioteca de pesquisa dele. Nessa época não tinha ainda funcionários que ficavam fazer sumir as leituras do que os usuários estavam lendo ao ponto de esconder os livros, mais eu até cheguei a este ponto no final da minha segunda pós-graduação.
Na minha chegada o Espaço Cultural da Fundação Pierre Verger não existia é por isso que depois estes funcionários não tinham outras coisas para fazer, fora de se cuidar da vida dos outros.
Hoje eu me pergunta se têm ainda pessoas com o direito de ler nessa biblioteca ou a documentalista esta unicamente ai para tirar a puera dos livros ?
 
Então na minha primeira chegada na Bahia, foi ai mesmo que eu fiz meus primeiros passos com Mãe CiCi que já dava para perceber que não era uma funcionária como as outras.
Nesta época ainda poderíamos questionar este lugar como uma ONG com uma dimensão filantrópica humanista o que hoje tem o nome de Fundação para esconder o outro lado do Iceberg para não dizer empresa com interesse internacionais.
Eu já tinha assistido a algumas festas de Candomblé e minha única verdadeira informante era Mãe CiCi que me ajudava a recompor minhas primeiras emoções numa festa de Candomblé.
 
Eu até já tinha ido até Lauro de Freitas conhecer a Roça e num segundo tempo solicitado com ela poder fazer um jogo para conhecer meu Orixá através seu Pai de Santo.
Obviamente, dentro do que eu já tinha observado na minhas primeiras observações na Casa Branca, e principalmente no Ilê Axé Opô Afonjá onde eu concentrei minhas primeiras observações porque já me parecia na época o terreiro o mais organizado porque além de assistir festas eu conseguiu acompanhar uma programação de alguns seminários sobre vários assuntos até apresentação de capoeira dentro do barracão.
Mas para mim que vivências crises já a alguns anos, o que me fascinava erra a incorporação do Orixá.
E para me que tive que passar na frente de banca de pós-graduação na França, a frustração sempre foi enorme de estar na frente de um júri de especialistas que nunca tivesse visto isso.
 
Eu conseguiu ao longo da minhas observações entender que a codificação deste ritual com regras extremamente rígidas permitia de sair deste estado de incorporação sem prejuízo pela saúde (e ao longo do tempo eu comecei a perceber o beneficio da cura do Orixá como energia vital).
Já pensou, desta compreensão na minha própria dimensão orientou a escolha da minha pesquisa e é dentro do centro deste interesse que eu podia ver uma própria salvação para sair da psiquiatria.
A psiquiatria cura o lado biológica da doença mas se ela não se acompanha duma pesquisa espiritual e transcendental ele leva a morte sem outro tipo de perspectiva para o paciente.
A morte em se não é o problema maior, as pessoas que foram escolhidos para se alimentar da psiquiatria para sobreviver em muito caso são pessoas que vivem com um destino terrível para passar por estado espirituais muito pesado para se aliviar espiritualmente. Existe até um nome que se pronuncia com muito cuidado no Candomblé : os abikus.
 
E mesmo assim, eu vive no fil da navalha sempre com a possibilidade de cair na depressão e no lado da psicose porque a "química dos remédios deixam o paciente prisioneiro da sua doença" mas a forca espiritual da minha família de Santo com quem eu manter um diálogo permanente e cotidiano é uma référence comunitária para me proteger e que vai além de uma sociedade individualista e materialista em meio urbano.
Num mundo racional Europeu da cura é difícil entender que a Fé cura também.
Eu entendi claramente, neste momento de crise em inicio de Agosto de 2001, que minha única salvação sozinho na Bahia era de recorrer ao ajuda de Mãe CiCi neste momento de crise antes que a minha família chegasse e que até hoje não aceitou entender do que se tratava, até me jogando a culpa sem medir a gravidade do seus atos e atitudes.
 
Obviamente nesta época não exista o celular, a gente comprava na rua cartão telefônico para fazer ligações a partir de orelhão na rua. Eu conseguiu ficar em contato com Mãe CiCi a pesar de estar num momento de transtorno até a chegada de Alain Georges & Carlos Henrique (Meu Pai Biológico e seu irmão) que me buscaram de volta para o Rio de Janeiro.
Eles me levaram quase de força eu não queria ir embora, a pesar de estar numa forma de -Erê- quase entre 2 mundos, eu estava percebendo que esta crise ia me levar de força de volta para a França.
E isso eu não queria, foi tão trabalhoso para me juntar este dinheiro para não trabalhar durante 1 ano para ficar enfim no Brasil, por minha própria escolhe e sem a ajuda de ninguém e só de mim mesmo.
 
Eu que foi mandado embora ao meu 18 anos após meu ano em São Paulo sem nenhum tipo de solução para me ajudar para poder voltar. Precisou para mim mais uma vez,10 anos para eu conseguir achar uma estabilidade profissional que me ajudou a me sustentar para estudar e me formar e com a ajuda de nenhum deles da minha família biológica brasileira. Eu estava ai para me curar do que me faltava na França, me enchendo de novo da minha cultura que cada vezes esta família quis me roubar!!!
E dentro de toda esta historia foi mais uma vez minha Mãe Danielle que me salvou porque ela conseguiu com seu seguro beneficiar de uma repatriação internacional enquanto minha família Biológica Brasileira não queria acreditar que eu não tinha tomado nenhum tipo de droga a pesar de todos os testes feitos que eram negativos.
Foi assim que uma equipe medical formado de um medico e uma enfermeira, vir me buscar no Rio até me levar na França no setor de emergencia no Hospital de Toulouse onde eu foi internado todo o mês de agosto até sair de lá, alguns dias antes do famoso 21 de setembro 2001 do hospital perto de AZF conhecido pelos moradores de Toulouse como o dia mais sofrido da cidade.
Mas que eu ia fazer ? agora, ficar aqui em Toulouse até voltar para a empresa em março 2002 (eu tinha conseguido uma licencia sem salário de 1 ano) ? e abandonar meu sonho de pesquisa ?
 
Na minha crise, eu sentiu uma real ajuda de Mãe CiCi que conseguiu identificar todos os atores da minha historia através essas crises, eu senti dentro do povo do Candomblé uma compreensão maior, gente de uma outra geração que a minha e que tinha uma forma de empatia que eu não conhecia nos europeus e o real sentimento de querer ajudar porque também faz parte de uma compreensão maior numa forma de filosofia de vida ligado a ancestralidade.
Então quando eu tomei a resolução de voltar para meu campo, eu era já mais preparado e dentro já numa rotina de trabalho dentro da cidade.
Eu me encontrei com minha Diretora de pesquisa no inicio de outubro antes de voltar, ainda muito confuso do que me tinha acontecido mas decidido a não falar nada e em mesmo tempo lhe confiando que - o campo - as vezes é uma coisa que em definitivo na minha formação eu não era preparado dentro do que eu podia imaginar. Sem dizer o motivo da minha volta porque era previsto para voltar no inicio de março 2002, eu confiei para ela que eu precisava de uma - respirada - voltando na França mais que eu era decidido a fazer meu trabalho e apresentar meu memorial.
 
A nenhum momento a equipe do meu CMP de referencia notificou uma negação para eu voltar, mas nesta volta eu achei nas listas telefônicas um medico referente na Bahia e durante os 6 meses que eu fiquei comecei uma terapia em português e foi acompanhado por este profissional durante todo este tempo que eu fiquei em Salvador e para ele eu posso confiar era também uma coisa novo acompanhar um paciente com ainda tantas dificuldades para se expressar e falar o português.
A minha volta foi um pouco reservado no inicio para Mãe CiCi e esta vez ela dobrou de esforço e de cuidado vendo que eu era um elemento com muitas capacidades e vontades de aprender porque meu desafio era uma questão de - sobrevivência - (e isso vai bem além das competições com alguns dos meus irmãos por questões de títulos, postos ou estatutos).
 
A minha luta foi sempre contra mim mesmo é por isso não me interessa o que eles fazem a condição de não pisar sobre meus pés, o que eu não diria deles que são constantemente nas redes sociais para me espiar sobre o que eu faço para poder se ajustar !!!
Durante minha crise, eu tinha ficado um tempo na Roça, Meu Pai OBARAYÍ me viu neste momento de transtorno. Mais eu entendi muito bem que a este momento da crise não era para ele de reagir. Era para eu retornar com minha família neste momento porque a responsabilidade era deles.
Quando eu voltei para Salvador, e esta vez sem passar pelo Rio de Janeiro na ida mais no final do meu roteiro antes de voltar para França.
Eu me entreguei, a meu Pai OBARAYÍ, eu pediu desculpa para o que poderia ter acontecido... e que mesmo eu, eu não sabia do que aconteceu, essas crises... elas apareciam de nada, e quando ela estão ai...já não posso mais nada fora me entregar na psiquiatria...
 
Ele foi acolhedor, ele diz que ia me ajudar mas em mesmo tempo eu tinha consciência que ele não ia aceitar me ajudar sem a autorização da minha família porque <FAZER O ORIXÁ É UMA COISA DE MUITAS RESPONSABILIDADES>.
Sabendo o preconceito racista da minha família biológica que nunca aceitou que eu fosse na Bahia.
E a grande compreensão espiritual da minha Mãe Danielle que me carregou totalmente sozinha durante anos na frente da psiquiatria com o silencio e a demissão total de responsabilidade a minha educação da minha família Biológica Brasileira, decidiu vir na Bahia nas festas de Natal durante 1 mês para ficar comigo e acompanhar dando sua autorização no caminhamento do processo da iniciação.
 
E depois do calendário religioso eu entrei... Ela me acompanho, conheceu a Roça, encontro meu Pai OBARAYÍ, acompanho minha Mãe CiCi em feiras, e avalio positivamente que era o caminho que eu tinha que seguir, para minha saúde, para poder voltar um dia morar no Brasil nossas conversas de sempre quando eu ficava com saudade do Brasil quando eu estava lá...
Eu poderia dizer que era uma forma destas saudades destes africanos descritos nos livros que sentiam falta da sua terra natal, mais hoje eu quero acreditar que poucos filhos de Santo entrem no Candomblé por este tipo de razões, hoje é mais uma questão cultural mesmo.
Mais próximo de mim, na história familiar com meus avós maternos o jeito de eles falavam da sua terra dizendo - Lá-bás - ("ali longe").
Eu passei o calendário das festas de 2001 participando a todas as festas...
 

 

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