©Maman, de hoje para sempre - Deserto do Saara - Entre o sul do Marrocos e a Mauritânia -
Sonhei com mãos estendidas.
De aliados, guias e diferenças enriquecedoras.
Sonhei com um mundo com valores, referências que nos ajudassem a construir juntos, a nos unir, a ter um objetivo comum.
Atribuo valor ao reino animal e à república das estrelas.
Dou valor ao vinho enquanto durar a refeição, ao sorriso involuntário, ao cansaço, de quem não se poupou, de dois velhos que se amam.
Atribuo valor ao que amanhã não valerá mais nada e ao que hoje ainda vale pouco.
Eu valorizo todas as feridas.
Atribuo valor à economia da água,
Para consertar um par de sapatos,
Para calar a boca a tempo,
Para correr ao som de um grito,
Para pedir permissão antes de se sentar,
Sentir-se grato sem lembrar o quê.
Eu valorizo a jornada do andarilho.
À paciência do condenado, seja qual for a sua culpa.
Atribuo valor ao uso do verbo amar e à hipótese de que existe um criador, muitos desses valores.
Eu não os conhecia.
Na verdade, sonhei com uma vida significativa, uma vida onde a bondade triunfasse, onde os mocinhos vencessem no final.
Então você pode imaginar que eu era um pouco ingênuo...
Tudo isso não é da semana passada,
Eu tinha quinze anos.
Abri os olhos para o mundo, para a realidade, um pouco como hoje.
Queria fechar imediatamente os olhos, as pálpebras, e passar para outra coisa.
E é aqui que a literatura e a leitura entram em jogo,
Então, inicialmente, refuto a ideia de grande literatura porque ela não existe.
Isto implicaria que há leituras que são necessárias e que há outras que não são importantes, não há nada fútil, não há nada mais útil que outras,
Só a leitura é que é importante. Eu nunca vou deixar ninguém dizer:
“- Sou menos importante do que outra pessoa apenas por causa dos meus gostos.”
E convido você a fazer o mesmo. Para mim foi através das minhas primeiras leituras, dos meus primeiros heróis que a literatura, seja ela qual for, me mostrou que tudo o que sonhei era possível, existia. Esses valores, essa busca de sentido, essas esperanças, estava tudo lá!
Para falsificações, mas sonhadas por pessoas reais, pessoas reais.
Eu não estava sozinho, mesmo em um mundo tortuoso.
Foi isso que a leitura me ensinou. Quem lê nunca está sozinho. Cruzamo-nos com as palavras dos outros, com a esperança, a energia, o sentimento de que muitos de nós acreditamos e a necessidade de tentar.
Eu tinha quinze anos.
Eu acreditava que este mundo não era para mim.
E a leitura me provou o contrário. Até fiz disso o minha profissão, por isso nunca deixe ninguém lhe dizer que a literatura e a leitura não salvam vidas.
Ela provavelmente salvou a minha.