©Comunidade Horta Fatumbi - @Ogan Fabien
O cantor Bernard Lavilliers conta que um dia o presidente François Mitterrand lhe perguntou, maliciosamente:
“Então, ainda gosta de causas perdidas e música tropical?” -
“Em resposta, a cantora fez dessa pergunta o título de um álbum. Ele estava absolutamente certo. As “causas perdidas e a música tropical” – Ou seja, as lutas sem esperança. Lugares abandonados, países dominados, pessoas lançadas no lixo da História pelo obscurantismo que hoje rege o planeta são precisamente as bases onde o nosso fervor e, para ser franco, as nossas criatividades devem ser mantidas. Ao focar nas causas perdidas, ampliamos toda a nossa percepção. Ao saborear a música tropical, acedemos a polirritmia do corpo e da mente, onde a sensação se articula em imagens e confere às ideias a preciosa insígnia da utopia. Os grandes poetas sempre se declararam “solitários e solidários”. Solitários, não pela retirada do mundo, mas pela rejeição daqueles poderes que desesperam as velhas democracias e que transformam – como viu Ionesco – os melhores cidadãos em rinocerontes assustadores. E quando estes poetas se dizem solidários é porque se posicionam em relação a tudo o que a beleza pode ensinar como humanização no sabor das causas perdidas e na alegria incomparável do zouk, da salsa, dos velhos beguinos e do reggae.” -... e Ô SAMBA -.
Patrick Chamoiseau